Crítica | A Substância

Filme estrelado por Demi Moore é um dos melhores do ano

21/10/2024 12:40 / Por: Laylton Corpes / Fotos: Divulgação
Crítica | A Substância

“O novo é inevitável”, declara o personagem de Dennis Quaid enquanto consome grotescamente um prato de camarões. É com uma simples mensagem, das tantas que permeiam o filme A Substância, que podemos entender o que a diretora Coralie Fargeat quis dizer sobre a pressão estética que tantas mulheres sofrem. Mas não se engane: o longa não é singelo ao reacender a crítica ao tema.


Em A Substância, Demi Moore dá vida à Elizabeth Sparkle, uma estrela que se vê em decadência após ser demitida de um programa de TV por baixa audiência. Desolada, ela aceita utilizar “a substância” - uma espécie de droga clandestina que cria um clone mais jovem e aperfeiçoado de si mesma, a carismática Sue (Margaret Qualley). No início, a façanha permite que Elizabeth alcance tudo o que sempre quis, mas logo o peso do ato começa a pender para as consequências.


Demi Moore vive a angustiada Elizabeth Sparkle. (Divulgação/Working Title Films)

À la David Cronenberg, o clone sai do corpo de Elizabeth por meio de sua coluna vertebral, lembrando o nascimento de uma ave deformada. Essa é somente uma das bizarrices que permeiam A Substância e seus impressionantes efeitos quase 100% práticos. A direção de Fargeat faz o uso desse e outros recursos para retratar o que há de mais visceral e grotesco em um body horror que encena a dissociação do “eu” em cores vibrantes.


Sue é a outra face do longa, vivida por Margaret Qualley. (Divulgação/Working Title Films)

A diretora captura o zeitgeist atual ao debater um tema tão pertinente em tempos de Ozempic e procedimentos corporais excessivos. No possivelmente papel mais desafiador de Demi Moore, a atriz precisou abrir mão do glamour para mostrar a vulnerabilidade de uma personagem que se recusa a envelhecer. Margaret Qualley, por outro lado, tem o magnetismo como seu aliado, retratando uma personagem ambiciosamente compulsiva. É esse dualismo uma das características mais interessantes de A Substância. Se por um lado há vulnerabilidades e fraquezas, do outro sobra hipersexualização e até fetichismo, sob uma perspectiva predatória masculina. 


Com forte senso estético, o longa é cheio de referências não só de Cronenberg, mas à Stanley Kubrick e tantos outros diretores que pavimentaram o gênero do horror. A Substância é um daqueles filmes que não saem tão fácil da cabeça, retratando o que para muitos pode ser desagradável, porém não menos verdadeiro.

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